Construção de usina hidrelétrica para tocar 160 pivôs no Rio das Mortes preocupa a população; 80 já estariam instalados

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Da Redação

A notícia soou como bomba durante a execução da recente etapa dos trabalhos de limpeza do Rio das Mortes realizada pelos membros do projeto ambiental Rio Limpo Rio Lindo; e foi confirmada pela reportagem nesta quinta feira, 06, junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura de Nova Xavantina.

Empresas terceirizadas ligadas ao grupo Bom Futuro, do ex-governador Blairo Maggi, estão se movimentando para iniciar a construção de uma usina hidrelétrica na altura da propriedade do Sr. Benedito, na região da Ilha do Coco, perto do travessão Sete Bocas, para abastecer160 pivôs de finalidade agrícola, industrial e pecuária.

ALTOS INVESTIMENTOS

Oitenta deles já estariam instalados e outros oitenta em fase de licenciamento.

A empresa de mineração Eros -antiga Mineração Caraíba- está construindo a sua linha de transmissão energética para abastecer o pivô, cujos postes podem ser vistos na rodoviária velha, no setor Xavantina.

A Fazenda Mata Verde também estaria construindo a sua, num investimento calculado entre os dois projetos de R$ 60 milhões.

Na construção da usina, extra oficialmente, o investimento será de R$ 800 milhões.

SEMA

Toda o processo de licenciamento para a construção da barragem, licenciamento e instalação dos pivôs, é de responsabilidade da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA), que administra as águas que correm dentro do Estado, e autoriza ou não, os licenciamentos ambientais através do CONSEMA – Conselho Estadual do Meio Ambiente.

O CONSEMA é a instância responsável por avaliar os licenciamentos de empreendimentos que exigem Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA).

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Recentemente, por encontrar irregularidades nos processos de licenciamento de 04 PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) situadas na cabeceira do Rio das Mortes, em Primavera do Leste, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou à SEMA que retirasse da pauta das reuniões do CONSEMA os processos de licenciamento das PCHs Entre Rios, Geóloga Lucimar Gomes, Cumbuco e Vila União, além da linha de transmissão associada ao complexo hidrelétrico.

Dentre as irregularidades apontadas, o MPF destacou a falta de manifestação da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), diretamente afetados com a construção das obras.

A SEMA tem 30 dias para responder à recomendação, que foi feita no último dia15

VAPORIZAÇÃO

Rústico, natural, preservado, parte da história de Nova Xavantinas e dos Bandeirantes do século XVIII, no Rio das Mortes ainda se vê a qualquer hora do dia famílias de capívaras banhando solenemente em suas águas (ver foto abaixo) e bando de macacos fazendo algazarra em suas margens.

Com a usina, além da brutal retirada de água de seu leito com os160 pivôs, haveria o processo de vaporização acelerado, como explicou o chefe da Divisão de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal, Arinos Oliveira Serpa:

“Num copo, a água fica concentrada, difícil de evaporar; esparramada no chão, evapora mais fácil e rápido”. A barragem provocaria este fenômenos, entre outros.

TURISMO E LAZER

Para Nova Xavantina, a única cidade do Vale do Araguaia banhada pelo Rio das Mortes em seu perímetro urbano, que corta a cidade no centro, a diminuição do f luxo de água que o processo causaria, seria um desastre total e completo para a sua população, não só nas aldeias indígenas -que perderiam o seu pescado- mas também nas áreas urbana e rural.

Formador de praias lindíssimas e aprazíveis, onde a população está acostumada a passar momentos de lazer, o Rio das Mortes é responsável pela atividade turística do município, cada vez mais atraindo turistas e visitantes regionais e de outros Estados, que não só movimentam a economia do município, como também propiciam um intercambio cultural e espontânea entre os moradores que é a marca registrada da cidade.

Voltaremos ao assunto.