“A mansidão de Dona Maria, 100 anos…” leia crônica de Ezio Garcia. ATUALIZADA

UM SÉCULO NUM DIA...

0

Dona Maria Calanca Garcia, a Mama, também conhecida como “Sá” Maria, fez 100 anos no último dia 17 de setembro, ou melhor, comemorou um século de existência neste dia, pois nasceu alguns dias antes, no dia 08 de setembro de 1923, numa pequena cidade do interior paulista, Ariranha, onde viveu até os 08 anos, correndo, brincando e rezando, valores típicos de uma tradicional família de migrantes italianos, que fugindo dos horrores da segunda guerra mundial, aportou no Brasil, terra da Paz e da Fraternidade entre os povos.

Após o rico período da infância, a família, cujo pai, Vô Ernesto, era sanfoneiro, tocava bailes na região; se mudou para a regão da Alta Sorocabana, mais precisamente para Alfredo Marcondes -à 20 km de Presidente Prudente-, onde a pequena Maria conheceu nosso Pai, Mario de Assis Garcia (in memorian), e de lá sairam casados, 25 anos depois, com destino à capital, segundo eles, “para dar estudo aos filhos”, que já contavam oito -sete mulheres e um homem; eu, com dois anos de idade. A oitava filha nasceu na capital.

BANDEIRANTES

Desnecessário apontar a coragem, determinação e nobres ideais que moveram este casal de verdadeiros bandeirantes, que fizeram o sentido inverso do atual êxodo dos grandes centros: abandonaram a vida pacata e feliz do sítio no interior, onde viviam e criaram sua numerosa prole, em troca da dura realidade da cidade grande, com seus perigos e incertezas, principalmente para uma família predominantemente de mulheres, movidos pelo nobre e dignificante ideal de dar Educação aos filhos.

Conta-se que foram muitos os “conselhos” desencorajadores dos compadres e comadres interioranos, segundo os quais, na capital, “as filhas iriam cair na vida” e outros prognósticos sombrios, que, claro, não se realizaram, pelo contrário: a família hoje é mais que centenária em seu número de netos, bisnetos, tataranetos, genros, agregados, parentes e amigos, todos plenamente estabelecidos e em franca produção e evolução. A Fé venceu o medo, e graças a isso, entre outras coisas, estou aqui escrevendo estas linhas…

ADAPTAÇÕES

Conta-se também, e isto é bem verdade, histórias de dificuldades de adaptação por parte de Dona Maria com a vida da capital, como por exemplo, à noite, na hora de dormir, ficar assoprando a lâmpada elétrica, pensando tratar-se do lampião; e do medão (“paúra” em italiano), da tal panela de pressão….que fazia um barulhão danado, etc.

O resumo foi que medos e traumas vencidos, prognósticos sombrios não realizados, a família só teve dois endereços na capital: um logo na chegada, pagando aluguel, período que não passou de dois meses, para em seguida mudarmos para a nossa casa, nosso endereço até hoje, no alto da Vila Paiva, vizinho à Vila Guilherme, zona norte, nosso berço e história, onde passamos a infância, adolescência e parte da juventude, eu e minhas irmãs.

A FESTA

Por tudo isso e muito mais, a festa de aniversário de 100 anos de Dona Maria haveria de ser marcante, um divisor de águas, algo inesquecível, daqueles que hão de ficar para sempre na memória. Chegar à um século de vida em pleno gozo da saúde, com todas as faculdades físicas, psíquicas e mentais em dia e em ordem é um acontecimento, e assim o foi.

Família reunida: filhos longínquos, netos em outros continentes, parentes distantes, todos vieram, todos queriam estar presentes em tão significativo evento; e vieram, e estiveram e marcaram presença, tanto fisicamente como no coração.

DIA MÁGICO

Um século é um século, um ciclo, uma parte longa da história que se escreve.
Ali estávamos todos -filho, filhas, nora, genros, netos, sobrinhos, bisnetos, tataranetos, parentes e amigos-, colhendo os frutos desta história; celebrando a vitória da vida, da fé, do amor, da paz e da sabedoria acima de todas e quaisquer dificuldades, na festa organizada pelas irmãs e coordenada pela caçula Dineia. Um dia mágico.

O SEGREDO

Quando lhe perguntavam qual a receita para chegar aos 100 anos com saúde e de bem com a vida, a resposta foi sempre cheia de sabedoria: “Olha bem, eu sempre fui mansa, minha mãe dizia que eu era a mais mansa das minhas irmãs. É isso. Seja manso e mansa…este é o segredo para se viver bem e com saúde”.

E é mesmo. A prova viva está aí.

Parabéns Mama, pelo aniversário e pelo grandioso exemplo que a senhora nos dá….Não há ensinamento maior e melhor do que o exemplo de vida, que vale mais do que mil palavras, mil diplomas…É eterno.

COMPARTILHAR